É fofoca espalhar a notícia de que Paulo e Maria, colegas de departamento, vão se casar antes deles mesos anunciarem isso publicamente? Ou que a Carol, da contabilidade, está esperando seu segundo filho? Conversas informais sempre existiram em todos os ambientes, e no profissional não é diferente. Mas quando passa dos limites, ela pode ser muito prejudicial. Vamos falar sobre Fofoca no local de trabalho, e porque você deve tomar cuidado com ela.
O que é fofoca?
Fofoca é uma palavra dotada de vários significados. Para alguns, são somente palavras que se diz sobre alguém quando a pessoa não está ouvindo, mesmo que seja verdade. Outros acham que a fofoca envolve apenas histórias falsas, as famosas fake news, , enquanto outros ainda consideram “fofoca” qualquer conversa sobre assuntos de uma pessoa ou instituição – seja pessoal ou profissional, que seja perigosa e caluniosa.
Fofoca é sempre ruim?
Na opinião de Peter Vajda, palestrante norte-americano, e coach empresarial, sim. Ele define a fofoca no local de trabalho como uma forma de violência nesse ambiente, observando que é “essencialmente uma forma de ataque”.
Já outras empresas consideram que é fofoca no local de trabalho compartilhar uma informação ou opinião simplesmente por falar, sem intenção de oferecer uma solução, ou ao menos conversar com o colegas de trabalho sobre o problema.
Já na GrowBiz Media, uma produtora de conteúdo para empresas pequenas e médias, se considera que um pouco de fofoca é saudável, porque mostra camaradagem entre a equipe e relações que vão além do formal, potencializando o networking. Às vezes, a fofoca “é um prenúncio de algo que é verdade e deixa você ciente de algo, como gerente, em que você precisa trabalhar”, acrescentou ela.
Mas a CEO da empresa explica que , “ se está começando a ferir os sentimentos de alguém ou afetar o moral ou a atitude, é aí que o limite foi ultrapassado”, e os gestores tem que estar realmente atento para saber quando isso acontece.
Perigos da fofoca
No entanto, a fofoca no local de trabalho pode ser muito séria se o fofoqueiro tiver um poder significativo sobre o destinatário, escreveram as autoras Nancy Kurland e Lisa Hope Pelled em seu artigo Passing the Word: Toward a Model of Gossip and Power in the Workplace – Passando a palavra: em direção a um modelo de fofoca e poder no local de trabalho, publicado em na edição de abril de 2000 da The Academy of Management Review.
Algumas consequências negativas das fofocas no local de trabalho são:
Erosão da confiança e do moral.
Perda de produtividade e perda de tempo.
Aumento da ansiedade entre os funcionários à medida que circulam rumores sem informações claras sobre o que é e o que não é fato.
Desunião entre os membros das equipes, à medida que as pessoas tomam partido.
Ferir sentimentos e reputações.
Desgaste devido à saída de bons funcionários da empresa devido a um ambiente de trabalho insalubre.
Políticas da empresa em relação à fofoca
Nos manuais de conduta para os funcionários, muitas empresas têm políticas formais que restringem a fofoca, mas como evitar que essa política não seja tão abrangente a ponto de ser ilegal, ao restringir demasiadamente os direitos individuais dos funcionários, como a liberdade de expressão?
Por exemplo, os Estados Unidos têm uma legislação trabalhista bem mais flexível que a brasileira, mas Numa decisão de dezembro de 2013, a juíza de Direito Administrativo do Conselho Nacional de Relações Trabalhistas (NLRB), Donna Dawson, derrubou o que chamou de política “excessivamente ampla” de proibição de fofocas no Laurus Technical Institute, na área metropolitana de Atlanta.
O instituto demitiu Joslyn Henderson porque ela discutiu uma reclamação da Comissão de Igualdade de Oportunidades de Emprego (EEOC) que ela havia apresentado, alegando assédio sexual e retaliação por parte de seu gerente.
A escola tinha uma política restritiva de proibição de fofoca que proibia falar sobre a vida pessoal ou profissional de alguém quando a pessoa ou seu gestor não estivesse presente. Também proibia “fazer comentários ou críticas negativas ou depreciativas sobre qualquer pessoa; criar e compartilhar ou repetir um boato sobre outra pessoa; e discutir questões de trabalho ou termos e condições de emprego com outros funcionários.”
O juiz concluiu que a política violava a Lei norte-americanda de Relações Trabalhistas, pois a política do instituto violou a Seção 7 da lei, que trata da “atividade concertada protegida” dos funcionários. Na linguagem leiga, isto significa que a lei protege o direito dos trabalhadores de falar sobre salários, horários e outras condições de emprego.
Como criar uma política corporativa para combater a fofoca no ambiente de trabalho
Em primeiro lugar, a política deve declarar explicitamente que não se destina a limitar a liberdade de expressão dos funcionários, ou seu direito de falar sobre salários, horários ou condições de trabalho, destinando-se a fofocas sobre questões não relacionadas com o trabalho.
Para além disso, acrescentou, as organizações têm de decidir onde se situa o limite entre as brincadeiras inofensivas entre colegas e as conversas que podem levar a preocupações legítimas sobre saúde, segurança ou assédio.
A verdade é que nunca se conseguirá impedir as pessoas de falarem sobre o fato de um membro da equipe ter chegado para trabalhar cheirando a álcool, ou de problemas pessoais que ele não consegue esconder. É da natureza humana.
Mas há definitivamente uma linha que é preciso traçar, por exemplo, no que diz respeito à segurança, ou [com] questões de assédio, ou se alguém se sente falado por causa da sua etnia, gênero ou orientação sexual.
Nesse caso, a fofoca no ambiente de trabalho torna-se uma responsabilidade da empresa, se não for resolvida”.
O que as empresas podem fazer
As empresas não podem usar as políticas de não-fofoca para proibir queixas normais sobre os supervisores, como o Instituto Técnico Laurus parece ter tentado fazer.
Como gestor, você tem que aguentar um pouco, porque é provável que haja algum ressentimento em relação ao chefe. Se alguém disser: “Ele é mesmo duro de aguentar”, o melhor é esquecer o assunto. Mas se começar a ser algo do género: “fulano bebe todos os dias durante o almoço”, isso vai minar a sua autoridade e credibilidade, é nessa altura que pode ser necessário tomar medidas.”
Políticas que proíbam a fofoca pode ser suficientemente complicado para que as empresas queiram concentrar-se em educar os empregados sobre os perigos de falar sobre os colegas de trabalho nas suas costas, porque pode ser considerado bullying ou uma conduta pouco profissional.”
Contrate um coach
Coaches especializados no ambiente da equipe e são muito parecidos com um conselheiro matrimonial, eles sentam com as pessoas e discutem o que está na raiz [da fofoca], e talvez descubram que as pessoas se sentem ressentidas porque o gerente favorece certos funcionários.
E-mail profissional
Dependendo da sua posição na equipe de gestão, o gerente pode verificar o tráfego de mensagens de e-mail para se certificar de que não há um uso indevido do e-mail profissional para espalhar fofocas.
O e-mail empresarial pode ser um método particularmente perigoso de espalhar focofas porque as mensagens podem ser facilmente reencaminhadas para destinatários indesejados. As empresas inclusive, estão legalmente amparadas em impor regras para o uso do e-mail corporativo.
Os funcionários tratam frequentemente as comunicações por e-mail como conversas presenciai, dizendo coisas que nunca diriam numa carta ou memorando”. Por essa informalidade, os trabalhadores tendem a usar de pouco discernimento quando escrevem e-mails, por vezes incluindo linguagem difamatória, opiniões contrárias à política da empresa, mensagens contra os interesses da empresa ou “simplesmente conteúdo mal escolhido com um tom inflamatório”.
“As empresas devem incluir uma política de uso do e-mail nos manuais dos seus empregados e informá-los sobre os perigos inerentes à utilização do e-mail. Para reforçar a mensagem periodicamente, as empresas devem distribuir cópias da política a todos os funcionários, pelo menos anualmente.
A política de uso do e-mail deve definir claramente a extensão das expectativas de privacidade dos funcionários no que diz respeito às comunicações através do equipamento da empresa.”
Grupos de WhatsApp e redes sociais
Não é exagero afirmar que na maioria dos casos, os problemas fofocas no local de trabalho migraram do e-mail corporativo para os grupos de WhatsApp e redes sociais.
Os efeitos nocivos são os mesmos, mas mais potencializados, porque não somente as pessoas têm mais facilidade de criar e transmitir mensagens utilizado o celular, com menos tempo para pensar no que estão escrevendo ou falando, como essas mensagens têm mais potencial de sair do grupo ao qual estavam originalmente destinadas, tornando a necessidade de cuidados maior.
Como se comportar em relação à fofoca
As empresas podem ter regras em relação à fofoca no local de trabalho, mas é mais importe que cada um de nós tenha uma postura adequada em relação a isso. O conselho é que você evite fazer isso, porque mesmo se for um bom profissional, se for também um grande fofoqueiro, não será visto como uma pessoa confiável.