Quiet Quitting: O que é a demissão silenciosa e o que significa para empresas e funcionários

Quiet Quitting, que podemos traduzir como demissão silenciosa é um termo que começou a ser muito utilizado, e discutido, a partir do Tik Tok, quando um vídeo do criador de conteúdo Zaiad Khan viralizou com um vídeo que já teve mais de 3 milhões de visualizações.

O tiktoker afirmou que o quiet quitting seria uma espécie de manifesto de rejeição à uma cultura de trabalho  altamente competitiva, em que os profissionais assumem responsabilidades muito além do previsto em suas funções, ficando sobrecarregados, e consequentemente, física e mentalmente esgotados e por isso, desmotivados, cansados, e com problemas físicos e psicológicos. E sem serem devidamente remunerados por isso.

A demissão silenciosa seria, então, uma busca pela recuperação do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, para evitar um burnout. E como o tema, e o “movimento”, ganharam corpo no Tik tok, que é a rede social mais utilizada pela geração Z, o quiet quitting foi indevidamente relacionado a essa faixa etária de profissionais. Mas, na verdade, ele é muito mais abrangente.

Afinal, o que é quiet quitting?

Quiet Quitting descreve a atitude de um funcionário que cumpre as responsabilidades essenciais de sua função, mas não vai além disso, não se esforçando alem do necessário e não fazendo mais do que se espera dele.

Em uma situação normal, e analisando sob um prisma mais usual, definiria também um profissional que teria poucas chances de progredir na carreira. Mas como a demissão silenciosa assumiu ares de manifesto e movimento nas redes sociais, afetando a  produtividade das pessoas e o resultado das empresas, vale a pena analisar esse assunto com mais atenção.

Demissão silenciosa é uma maneira de pedir por mais limites entre a vida profissional e a pessoal

Quando faz o quiet quitting, o funcionário trabalha apenas o necessário para sua função, parando de se envolver com novas atividades, chamar para si novas responsabilidades, ou fazer mais do que sua liderança esperaria dele.

Se por um lado isso vai contra boa parte do que consideramos a fórmula para ser um profissional de sucesso, que o inventor e empreendedor Thomas Edison resumiu na frase “a genialidade é 1% inspiração e 99% transpiração”, pelo outro é necessário observar o que está acontecendo para que tantos profissionais tenham resolvido aderir à demissão silenciosa.

Quiet Quitting é um problema geracional?

Uma pesquisa feita pelo Blog da Hubspot, uma das mais famosas fornecedoras de tecnologia para automação de estratégias de inbound marketing descobriu que nos Estados Unidos, um em cada três funcionários que trabalha em tempo integral afirma está fazendo quiet quitting ativamente em 2024.

E os resultados foram os seguintes:

32% da geração Z  – Pessoas nascidas entre 1995 e 2010.

37% da geração millennials  – Pessoas nascidas entre 1981 e 1985

35% da Geração X  – Pessoas nascidas entre 1965 e 1981

Pelo que a pesquisa indica, a adesão ao quiet quitting acontece em proporções semelhantes entre as gerações X, millennials e Z. Ou seja, profissionais maduros e experientes, até mesmo no C-Level, segundo pesquisa da Forbes, e  jovens que acabaram de começar a carreira, cheios de energia, mas mais sujeitos a cometer erros de avaliação por falta de experiência, estão praticando a demissão silenciosa.

Como a demissão silenciosa é vista no ambiente corporativo

Voltando à pesquisa da Hubspot, nos Estados Unidos, 55% dos que a responderam tem uma visão positiva sobre o quiet quitting, considerando-o uma maneira de estabelecer limites saudáveis ​​entre trabalho e vida pessoal, para evitar um burnout.

Por outro lado, 45% afirmam que a demissão silenciosa diz mais sobre a ética de trabalho do funcionário do que sobre a empresa, a função, a liderança ou quaisquer dos outros fatores que costumam afetar a motivação no trabalho, tendo uma visão negativa sobre a prática.

Quem pratica o Quiet Quitting

Todos nós provavelmente conhecemos “quiet quitters”, encontramos pessoas que praticaram a demissão silenciosa. E talvez tenhamos julgado essas pessoas de uma maneira bastante negativa, como alguém que faz corpo mole, que quer se aproveitar dos esforços realizados por outros membros da equipe, ou simplesmente, como alguém acomodado, que não “dá o sangue”.

Por outro lado, talvez nós mesmos já tenhamos passado por situações em que nos sentimos sobrecarregados, sem tempo para qualquer coisa que não fosse trabalho, porque abraçamos uma série de novas responsabilidades, mas não tivemos qualquer tipo de aumento em nossa remuneração ou mesmo o reconhecimento profissional.

E essa situação pode ter nos causado algum desânimo, nos tornando menos engajados ou motivados, mais procrastinadores , simplesmente porque estávamos esgotados, física e emocionalmente, próximos de um burnout, com todas as consequências negativas que isso pode trazer.

Se alguém dissesse que estávamos simplesmente fazendo corpo mole, quando tirar um pouco o pé do acelerador é a única maneira de preservar a saúde física e mental, com certeza seria muito desagradável, não seria?

Então, antes de fazer julgamentos apressados, colocar o quiet quitting como simples falta de resiliência, uma questão de “profissionais raiz” x “profissionais nutela” , apelando para a linguagem humorística das redes socais, é preciso tentar entender o que aconteceu. E por que o problema cresceu tanto depois da pandemia.

Causas do Quiet Quitting

Uma das causas de o quiet quitting ter se tornado um “movimento”, ou uma epidemia, se preferir, foi justamente a pandemia, quando o home office foi adotado em larga escala, e os contatos pessoais terem se reduzido drasticamente.

E é justamente por isso que a geração Z foi tão afetada, embora não seja o único grupo que sofreu consequências. Os jovens vivem em grupos, e o isolamento social os privou disso por bastante tempo, em uma época na qual isso é ainda mais importante.

Pesquisas demonstram, inclusive, um grande aumento de problemas como ansiedade e depressão durante esse período, associadas justamente ao isolamento social.

Mas, diferentemente de alguém que tem um burnout, e precisa desacelerar para se recuperar, o quiet quitting é uma decisão racional que se toma, presumivelmente, antes que o problema aconteça.

Então, o profissional que pratica a demissão silenciosa faz isso de uma maneira consciente e planejada. As principais razões pela qual faz isso são:

Procura por um melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal

A busca de um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, com tempo para a família, esportes, lazer e descanso não é nova. É absolutamente normal que, quando o trabalho começa a consumir muito tempo e energia, isso leve a uma insatisfação crescente, por mais que o profissional ame o que faz.

Se a quantidade de trabalho é excessiva, as pessoas tendem a tentar recuperar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Analisando especificamente a questão do home office, um dos maiores desafios que o trabalho remoto colocou foi justamente a questão de um limite de tempo. Profissionais em home office podem não ter de perder horas no trânsito, indo e voltando do trabalho, mas a hora de começar e a de terminar o trabalho precisam ser definidas.

Essa é a razão que faz com que, mesmo os profissionais que podem trabalhar em casa, e não tem mais um espaço fornecido por suas empresas, optem por utilizar coworkings, seja de forma contínua, ou apenas alguns dias da semana. Ter um local para onde precisam ir e voltar, obriga a que tenham horários definidos para começar e terminar.

Insatisfação com o chefe imediato

Ter um bom relacionamento com o chefe imediato é um fator importante para se sentir satisfeito, motivado e engajado no trabalho. Quando esse relacionamento não é bom, e o funcionário não se sente apoiado pela liderança imediata, não recebendo feedback adequado, pode começar a se sentir desmotivado. E faz o q quiet quitting justamente porque sente que dão pouca importância ao seu trabalho.

Existem diversos motivos que alguém pode se sentir insatisfeito com sua chefia. De uma pessoa tóxica, com um comportamento rude ou agressivo, até um chefe que gosta de microgerenciar, não dá nenhuma autonomia ao funcionário, ou é extremante centralizador ou exigente.

Todas essas situações podem gerar insatisfação com o chefe imediato, mas elas são muito potencializadas no home office, quando o chefe, além de tudo, se esquece que os funcionários têm dias e horários de expediente, e não respeita nem mesmo os fins de semana.

Falta de reconhecimento profissional

Se um funcionário não recebe reconhecimento adequado pelo seu trabalho, não tem nenhuma forma de feedback, ele pode começar a sentir-se desvalorizado e insatisfeito, especialmente se isso se traduzir em falta de oportunidades de crescimento profissional.

E, nessa situação, uma pessoa que sente que não recebe o reconhecimento que acha devido, também começa a entregar menos do que sabe que poderia, porque tem a sensação de que não fará diferença.

Conclusão

O Quiet Quitting se tornou um assunto relevante no mundo corporativo graças ao TikTok, porque uma pessoa com muitos seguidores expressou seus sentimentos a respeito do trabalho, e outras pessoas se sentiram motivadas a fazer o mesmo.

Mas seria um grande um erro tratar a demissão silenciosa como mais uma bobagem surgida nas redes sociais, porque, concordemos ou não com os motivos que as pessoas dão a si mesmas para fazer menos do que sabem que poderiam fazer, isso traz consequências, para os profissionais e para as empresas.

Os profissionais não podem se dar ao luxo de fazer somente o mínimo necessário. Isso pode custar suas chances de crescimento profissional ou até seus empregos, em uma situação de crise. Porque sempre haverá um colega de equipe que é mais engajado e comprometido. E a liderança da empresa cometerá um erro se não perceber isso.

As empresas também não podem ser dar ao luxo de ter funcionários que fazem somente o necessário, porque talvez seus concorrentes tenham equipes motivadas e esforçadas, que talvez por isso tenham uma entrega melhor. E nesse caso, não se pode culpar o cliente por escolhê-las.

Seria arriscado propor uma solução simples e genérica para o quiet quitting.  A única coisa que podemos afirmar com certeza é que ela passa por uma comunicação aberta e franca entre a liderança e os funcionários, alinhando as expectativas de ambos os lados.

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